"World, hold on..."
Essas músicas jovem-pan me fazem lembrar raves e festas toscas australianas, estilo E! Entertainment Television de madrugada, aquele pessoal branco, rosa, dançando, mulheres peitudas de biquínis horríveis, homens sem sal, uma pessoa aqui e ali com cara de descendente de asiático
que nem aquelas meninas que eu encontrei no metrô. Eu estava na integração ainda, aquele onibuzinho que geralmente toca Brahms original, e entra toda essa galera bem público do TRL. Falando aquele inglês simpático e totalmente nasal americano. Todo mundo muito simpático. E olhava pra eles o tempo todo. No metrô, andando, percebi que tinha parado no que seria a entrada do mesmo vagão que eles estavam pra entrar. Legal. Entendi muito menos do que queria da conversa deles. Depois de Botafogo, percebi que não era muito fácil tentar escutar decentemente uma conversa dos outros no metrô mesmo em português. Ou só um pouco. Era muito engraçado como uma delas tinha dito Siqueira Campos e Cardeal Arco Verde.
O meu maior desejo há já um tempo é quebrar meu vínculo com esse lugar em que vivo. É o Rio de Janeiro. O que fará de mim uma pessoa com uma vida totalmente diferente? O que me fará muito bem-sucedido? O tempo? Eu tenho muitas dúvidas. Mas eu queria sim ir pra lá e pra cá e ser só um humano. Sem cordão umbilical, sem nada. Pedaço de carne errante, tipo isso, lá e cá e por aí, fazendo minha parte em cores diferentes, sentindo cheiros alheios, alienígenas, escutando o que me é estranho. Assim.
Há uns meses, o sentimento chutou. Me peguei lendo uma coisa muito antigaa. (Sabe quando a sua vó fala de uma coisa muuuittoo antiga? É tão antiga quanto.) Era desses contos cheio de mitologia lá daqueles países nórdicos, escandinavos, brancos, cheios de consoante, sabe? Coisa bruta e linda. Sobre guerreiros, bebidas, salões, monstros, dragões, companheiros, e muito frio. Quem era eu ali? Ninguém. Cadê a minha língua ali? Qual era a minha língua? Por que aquilo era longe? Estava tudo ali na minha cabeça, junto da semana anterior, junto dos meus amores frustrados, junto da janta daquele mesmo dia. Não era nada longe. Eu me senti deliciosamente perdido, como naqueles sonhos que eu tive durante um tempo em que eu voava no meio do oceano no meio do mundo no meio da noite e era inteiramente consumido por medo e deslumbramento. Era tão bom.... Me senti órfão e feliz de um jeito estranho. Gozei tudo isso com um choro copioso apertando forte as mãos e gemendo fino e contínuo como quem é torturado. Acho que eu estava sendo torturado, moído e moído. Muito bom!
domingo, 5 de agosto de 2007
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Um comentário:
Você já é uma pessoa completamente diferente com uma vida completamente diferente, só precisa perceber e habitar essa constatação.
Eu gosto dos seus textos. To reveal art and conceal the artist is art's aim, disse o Wilde. Mas é inevitável pensar que seus textos estão cheios de você até o pó do osso. E gostar thus de você.
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