segunda-feira, 12 de abril de 2010
Ele se deixava levar pela desgraça que é o tédio e a rotina daquele que veste a roupa do civilizado - a roupa que aperta a pele e enrosca os pelos do humano -, quando viu um trem imenso de palavras. Nunca havia visto tanto vagão nessa linha. Era a linha daquele povo brumoso que viveu numa Europa nevoenta. E tabém da música que saía daqueles lábios incivilizados. E contemplou-o então carro a carro, e admirava-se do seu comprimento, e po-lo na palma da mão e o tocou com o corpo dos dedos. Até que apertou. Sentiu áspero, a grossura não era desprezível. Muito do que veria dentro daqueles carros assim que se dispusesse a analizá-los seria o que ele esperava. Ah! Mas e as tantas descobertas que ali também o aguardavam! Tantas surpresas que só surpreenderiam aqueles que sobre seu conteúdo expectativas tivessem. Amou aquelas palavras. E todo o fluxo que elas faziam correr dentro de sua mente. O trem nas mãos, o conteúdo dos vagões, o rio na cabeça, o som das palavras dentro de cada carro, e sua textura nos dedos. Amava já além. Não sabia o contorno mas sabia bem o quê. Também não sabia o onde. Mas amava - amava mesmo quando já não distinguia o que era amado e amante.
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3 comentários:
"E contemplou-o então carro a carro, e admirava-se do seu comprimento, e po-lo na palma da mão e o tocou com o corpo dos dedos. Até que apertou. Sentiu áspero, a grossura não era desprezível."
é um trem ou um pinto? HAHAHHA ficou muito fanfic essa parte, sorry, mas eu chorei.
puzé, i know XD
"a train of pearls cabin by cabin is shot precisely across an ocean" lembrei.
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